Foto de Onezia Lima
Não sei que tipo de raio me partiu no dia de Octo.Pûs. Em 2010, chegava em Recife a maquiadora AdrianaVaz. Adriana deu oficina de maquiagem e indumentaria para mim e meus colegas de trabalho na Escola Sesc de Teatro. Estávamos no ano da produção da peça A Morte do Artista Popular. Na oficina de indumentaria ela nos trouxe a ideia de Hélio Oiticica e seu trabalho com parangolé. Deveríamos ter o nosso pedaço de pano, com linhas, fitas, barbantes, pedras, purpurina e o que mais der, montaríamos a nossa capa com a nossa historia. Nesta época ainda sofria bastante com o termino do meu namoro de dois anos e meio, então decidi fazer o MAR, tenho grande atração com o mar e sua força, esse poder de levar e trazer, de transformar, ocultar, devorar... Me fascina! Peguei um pano azul de tom médio bem estreito, comecei a colar pedrinhas, fitas verdes, cola colorida, fitas rosas, não lembro se tinha lantejoulas, e quando Adriana se aproximou de mim disse que aquele pano precisava ser mais largo, eu a olhei já com um soluço no meio da garganta e ela deixou passar. No ultimo dia da oficina de maquiagem, ela pediu que com a maquiagem que estávamos - a minha era de concubina - fizéssemos uma performance com o nosso parangolé. Como de costume, fiquei acanhada com essa ideia de exposição, tomei coragem e fui.
Sentei no meio do palco, estirei o pano azul com aquelas colagens, e comecei a tirar uma por uma dizendo aos poucos:
Um dia
Me perguntaram
Amor
E eu respondi
Amar
Eu estava bastante machucada, fui arrancando as pedras com desconsolo, rasguei o pano nos dentes, sai falando alto em meio a lágrimas esse trechinho e no fim, Biagio chegou em mim e disse: "Guil, seria massa tu ter um pano bem grandão, assim ó, no meio da rua, e ficar falando isso e arrumando o pano"
Quando OCTO.PÛS brotou, entrei em escuridão na minha costura, não reconhecia quem passava por mim, quem tirava fotos, quem ia. Entrei dentro das memórias e...
Um dia
Me perguntaram
Amor
E eu respondi
Amar
Foi explorando os meus lábios, que não sei como, estavam salgados, LITERALMENTE.
Aquele parangolé de anos atrás, estava voltando.
Na madrugada de domingo (04/11) pra segunda (05/11), eu estava organizando as coisas para Oc (as mães têm direito a apelidos carinhosos haha), comprei oito tubos de ensaio vermelhos com as tampas amarelas, passei toda a linha azul ao redor do tubo porque os tubos de linhas não cabiam dentro do tubo de ensaio (ai quanto tubo haha), e dentro dos tubos de ensaio para não ficarem vazios coloquei alguns retalhos de saias ciganas que eu havia feito para mim, além do bilhetinho e a agulha (as almofadinhas vermelhas foram enchidas com esses retalhos também). No dia da apresentação, lembro que vi alguém ao receber o tubo, tirar o bilhetinho, a agulha e os retalhos, depois disso vi as pessoas NÃO COSTURANDO A SAIA (que era a minha intenção) E SIM COLOCANDO OS RETALHOS NA SAIA! Fiquei parada no tempo de 2010 quando eu colocava coisas no meu pedaço de pano, e simplesmente devo agradecer a este ser genial que acrescentou o meu ontem no agora!
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