Chá das 17h

Ingrid Machado

Ingrid Machado: Atrizteza, só que não. ingridmachadu@hotmail.com

domingo, 11 de novembro de 2012

Octo.Pûs de anos atrás

Foto de Onezia Lima

Não sei que tipo de raio me partiu no dia de Octo.Pûs. Em 2010, chegava em Recife a maquiadora AdrianaVaz. Adriana deu oficina de maquiagem e indumentaria para mim e meus colegas de trabalho na Escola Sesc de Teatro. Estávamos no ano da produção da peça A Morte do Artista Popular. Na oficina de indumentaria ela nos trouxe a ideia de Hélio Oiticica e seu trabalho com parangolé. Deveríamos ter o nosso pedaço de pano, com linhas, fitas, barbantes, pedras, purpurina e o que mais der, montaríamos a nossa capa com a nossa historia. Nesta época ainda sofria bastante com o termino do meu namoro de dois anos e meio, então decidi fazer o MAR, tenho grande atração com o mar e sua força, esse poder de levar e trazer, de transformar, ocultar, devorar... Me fascina! Peguei um  pano azul de tom médio bem estreito, comecei a colar pedrinhas, fitas verdes, cola colorida, fitas rosas, não lembro se tinha lantejoulas, e quando Adriana se aproximou de mim disse que aquele pano precisava ser mais largo, eu a olhei já com um soluço no meio da garganta e ela deixou passar. No ultimo dia da oficina de maquiagem, ela pediu que com a maquiagem que estávamos - a minha era de concubina - fizéssemos uma performance com o nosso parangolé. Como de costume, fiquei acanhada com essa ideia de exposição, tomei coragem e fui. 

Sentei no meio do palco, estirei o pano azul com aquelas colagens, e comecei a tirar uma por uma dizendo aos poucos:

Um dia
Me perguntaram
Amor
E eu respondi
Amar 


Eu estava bastante machucada, fui arrancando as pedras com desconsolo, rasguei o pano nos dentes, sai falando alto em meio a lágrimas esse trechinho e no fim, Biagio chegou em mim e disse: "Guil, seria massa tu ter um pano bem grandão, assim ó, no meio da rua, e ficar falando isso e arrumando o pano"

Quando OCTO.PÛS brotou, entrei em escuridão na minha costura, não reconhecia quem passava por mim, quem tirava fotos, quem ia. Entrei dentro das memórias e...

Um dia
Me perguntaram
Amor
E eu respondi
Amar

Foi explorando os meus lábios, que não sei como, estavam salgados, LITERALMENTE. 
Aquele parangolé de anos atrás, estava voltando.

Na madrugada de domingo (04/11) pra segunda (05/11), eu estava organizando as coisas para Oc (as mães têm direito a apelidos carinhosos haha), comprei oito tubos de ensaio vermelhos com as tampas amarelas, passei toda a linha azul ao redor do tubo porque os tubos de linhas não cabiam dentro do tubo de ensaio (ai quanto tubo haha), e dentro dos tubos de ensaio para não ficarem vazios coloquei alguns retalhos de saias ciganas que eu havia feito para mim, além do bilhetinho e a agulha (as almofadinhas vermelhas foram enchidas com esses retalhos também). No dia da apresentação, lembro que vi alguém ao receber o tubo, tirar o bilhetinho, a agulha e os retalhos, depois disso vi as pessoas NÃO COSTURANDO A SAIA (que era a minha intenção) E SIM COLOCANDO OS RETALHOS NA SAIA! Fiquei parada no tempo de 2010 quando eu colocava coisas no meu pedaço de pano, e simplesmente devo agradecer a este ser genial que acrescentou o meu ontem no agora! 

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