Chá das 17h

Ingrid Machado

Ingrid Machado: Atrizteza, só que não. ingridmachadu@hotmail.com

sábado, 10 de novembro de 2012

Tapa na bundinha de Octo.Pûs


IMPORTANTE: Ler ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=xSHYlSxQyJM
Diversas vezes, assim como eu.

Ela nasceu!
A esperei por dois meses.
A deixei aos poucos despertar, triscar o meu fígado, chutar os meus rins, percorrer minhas veias, apertar meu coração, estrangular minha garganta e escorrer pela espuma da saliva. 
Octo.Pûs me veio na medida em que você se foi. 

Sorria rapazinho, você é pai.
Eu, no seu lugar, vibro. 

Coloquei no prédio do CFCH, lá pelo primeiro andar, em um dos banheiros que fediam a merda, a saia vermelha, me concentrava e imaginava o que estava me aguardando, quando a única coisa que estava programada era chegar, me sentar e costurar. Coloquei a blusa, meu olhar caia, coloquei a saia azul cheia de fendas e ali, eu não mais arredaria o pé. Arrumei o cabelo, coloquei a maquiagem, os adereços nos tornozelos e me olhei de novo. Desci com o baú e as minhas preciosidades.

Do CFCH, fui mais uma suicida. 

Camarero e eu fomos em nosso ritual fúnebre até o corredor do CAC. Passos de quem anda embaixo d'água. O Sol ficou lá fora. Das minhas trevas sentei. Costurei.

Um, dois, três... Corpos e energias, nem tão conhecidas, se juntavam a minha dor. Passavam parte de seu tempo junto ao meu pedaço de carne de terceira. Emendamos aqueles buracos tão meus e tão deles. Furamos com a agulha parte da extensão do meu corpo. Colocamos flores neste mar. Fui agraciada com amor, que não o seu. 

"Vá até onde der
E quando der
Venha até a mim"

Dizia o bilhete perfurado com a agulha dentro do tubo de ensaio vermelho com a tampa amarela. Camarero dava-me o balm vermelho e nas bocas que estavam perto da minha, meus dedos descontrolados, cheios de catarros, nem tão cansados, com lágrimas secas, melecavam seus lábios... As vezes áridos, as vezes finos, as vezes másculos, quero dizer, muito másculos. 

Me beijavam os olhos
Me abraçavam os corações
Me respeitava o menino loirinho de rosto quadrado, que ao beijar a minha mão me fez sentir uma dama
Me emocionava o rapaz de cabelos escuros que ficou uma hora sentado comigo deixando seus traços na nossa saia, que ao se levantar me teve no espaço vazio de seu pescoço e cabeça, em um abraço que eu dormiria por dias
Me foi comovente o "parabéns" ao pé do meu ouvido e um carinho de trás pra frente
Me alegrou uma professora se ajoelhar e compartilhar aquele momento de minha vida na dela, levando em seus lábios meu vermelho e em sua bolsa o meu sentimento em frase...

Todas essas mãos em par, essas bocas em unidade e os corpos que com toda certeza eu carregaria um a um  neste cavalo que sou para suas casas. Nossa, como sou grata!

Agradecida a Deus por transformar
Agradecida a Rafa por ter sido tempestade
Agradecida a Leo, Gui e Amanda por terem topado
Agradecida a VI Semana de Cênicas por ter abraçado meu trabalho
Agradecida a este navio que está no fundo do mar...




E agradecida por mais esta dança, que mesmo tão sem pra quê eu existi nela.

O mantra das 12h40 até às 15h40


Que os mortos sempre sejam lembrados!
Thim Thim!

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