Chá das 17h

Ingrid Machado

Ingrid Machado: Atrizteza, só que não. ingridmachadu@hotmail.com

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pelas barbas do profeta.




Nunca presenciei cavalos de verdade em espetáculos, na verdade nunca fui ao teatro com o meu pai e sinto que a primeira vez que me senti desorientada foi no momento em que meu primo, que tem problemas mentais, me atingiu na cabeça com uma pedra bem grande, desmaiei, vomitei e fui parar no Hospital da Restauração, nisso eu tinha seis anos e posso assegurar que tive todos os meus sentidos dilatados. Eu poderia muito bem me esquecer da roupa que eu usava naquele dia ou o tipo de brincadeira que estávamos executando, certas coisas foram feitas para caminhar conosco durante um bom tempo e isso me faz lembrar da menina da mamãe que eu era.

Fingi muitas vezes não acreditar que as pessoas crescem, nada de Perter Pan ou coisas do gênero, eu gostava tanto da minha situação de criança que era bem mais valido permanecer nela do que experimentar coisas “desinteressantes”, aos treze eu era infantil, aos quatorze excluída, quinze rockeira, dezesseis... e hoje aos vinte e um fico me perguntando se era eu mesma naquelas fotos esquisitas desfocadas que sempre queria estar no centro, quando na verdade o espaço como um todo tem mais possibilidades. Tenho a certeza que ainda não me achei e nem vou me achar, já dizia Paulo Freie que o homem é um ser inacabado. Assim como o ator.

Quando me senti Sula Miranda cantando “abandonada por você...” passei por um momento em que nem os pés concluíam o andar, era uma coisa meio torta, desengonçada, tinha vezes que meu corpo parecia um pedaço de tronco de mangueira que furava a minha cama e posso dizer que só os meus dedos trabalhavam para expulsar os meus demônios. Sou de quem fala que certas coisas são relativas, posso ter passado por situações desagradáveis e mesmo assim conseguia ver a sensação de ter a minha epiderme expelindo o meu suor, ou como as pontas duplas do meu cabelo batiam na ponta do meu nariz, e quem diria, que no meio do vento eu conseguiria sentir a respiração de quem estava atrás de mim. Percebi que estar fora de si as vezes não era apenas pressão baixa, era permissão.

Sentimental eu sou e não sabia. Deveria me emocionar diante de catástrofes naturais? Deveria acompanhar o noticiário sangrento durante o almoço e não me chocar? Haveria alguma coisa errada no dessecamento de um corpo enquanto eu tomo um picolé? Enquanto filósofos fazem teorias sobre tudo e nada eu me aponto como um ser insignificante que chora diante da música de U2 e me arrepio no vídeo de Britney Sperars.
Por que? Por que? Por que? Muitos riem da cultura que me satisfaz e quando me questionam “Você gosta disso?” eu fico meio sem graça sem saber que “isso” é a minha transcendência e que não preciso por em palavras as minhas sensações de bem estar e conflitos, apenas senti “isso”.

A minha mãe foi a minha primeira professora, me guiava para não sair dos seus trilhos e sempre me orientava para estar de acordo com o que para ela fazia sentido. Depois que adquiri um pouco mais de consciência tentei me desvincular dela para ter as minhas próprias experiências e de tanto me experimentar foi por ai que meu cabelo foi azul. O que a minha mãe sentia não era a minha vontade de conviver com coisas lúdicas e me divertir comigo mesma, ela via a sua filha sendo negada pela família e estranhos, isso tudo porque as minhas atitudes iam de contra ao que eu realmente queria, logo minha mãe, como coadjuvante, não conseguiu entrar no jogo que eu propus, naquele momento eu me deixei seduzir pelos outros e depois de pensar muito sobre o assunto eu decidi mudar, e pintei o cabelo de laranja.

Trabalho de interpretação III.

2 comentários:

  1. Amo textos,escrevo tb.
    Espero sua visita no meu blog tb.
    Bom final de semana.

    www.vanessamonique.blogspot.com
    Twitter:@vanimonique

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